segunda-feira, 5 de setembro de 2011

um pouco sobre os clareados


O chá de Seo Avoado é mesmo revigorante! Se o não tivéssemos tomado, acho que hoje não teria acordado a tempo para minhas obrigações.

Seo Avoado, mais do que um ótimo guia, mostrou-se ontem um ótimo companheiro de expedições. Embora pareça nunca estar atento ao caminho, olhando muito para os lados (para cima e para baixo também), mas pouco para frente, não se afastou da trilha nem por um momento.

Ele nasceu em Clareada e desde pequeno percorre estes caminhos. Conhece cada planta, cada erva, cada inseto com que cruzamos. Enquanto caminha, colhe plantinhas para chás, toma borboletas nos dedos, conversa com os passarinhos. A própria água para nosso chá, que é especial, foi trazida da trilha. E ele gosta de compartilhar esses conhecimentos. Vai apontando aqui e ali e contando sobre cada ser vivo que encontramos. Às vezes conta também sobre os que não vemos - e que raramente se vêem. São palestras gostosas, pois a fala dos clareados é muito diferente da nossa. As palavras parecem sair de suas bocas como bolhas de sabão. Suas frases são construídas através de um raciocínio inteiramente diferente (embora perfeitamente compreensível), em que as palavras não têm ligações tão herméticas como as nossas, ao contrário, tem-se a impressão de que irão se desprender umas das outras a qualquer momento. Ao invés de dizer, por exemplo, "Ontem tivemos um belíssimo pôr-de-sol", dizem "Veio do poente passou aqui laranja azul rosa... fogo vira água no céu... foi, não vem mais...".

Não se nota apenas na fala a diferença: são mais cordiais, sorriem com frequência, movimentam-se com mais leveza e alguma lentidão. Têm a pele claríssima; os cabelos quase sempre ondulados e tão leves que esvoaçam o tempo todo; os olhos, não importa sua cor, parecem sempre muito transparentes e cheios de luz; têm a boca e as maçãs do rosto avermelhadas pelo frio; pés e mãos pequenos, com dedinhos esguios e hábeis, que tocam as coisas mais delicadas sem danificá-las.

Bem, acho que é tempo de encerrar esta pausa em meus afazeres. Há ainda muito que pesquisar!

Vento breve, leitores!

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