quinta-feira, 6 de outubro de 2011

a maravilha vermelha


Ensopados amigos!

Nesta madrugada a nuvem buscou-nos para nos colocar a caminho de mais uma maravilha - e nos mostrou sua doçura e sua violência.

Dormia eu um sono muitíssimo tranqüilo em que soava uma doce melodia em dó maior, quando minhas orelhas detectaram a presença de um incômodo tátil. Abri os olhos, ainda embriagados de sono, e mal pude acreditar que já não sonhava: uma minúscula - quase microscópica - menina ruiva, suspensa por pequenas asinhas cintilantes e translúcidas estendia seus braços para mim como se me envolvesse em torno de um lenço invisível. Quis avisar aos outros quando ela conduziu-me por um caminho entre as árvores, mas não pude, tamanho era meu espanto! Felizmente, soube em seguida que o mesmo se passava com todos.

Chegamos assim às margens de um vasto rio de águas claras, onde nos esperava uma exuberante canoa, entalhada com figuras de salamandras e espirais e de cuja proa saltava um grande peixe de boca aberta. As pequenas aladas, seguidas por todos nós, saltaram para dentro dela e seus remos começaram a mover-se sozinhos, conduzindo-nos rio abaixo. O som de suas calmas águas correndo era muito semelhante à melodia com que eu havia sonhado, apenas mais alto e claro.

Tivemos uma maravilhosa jornada, nos deliciando com a vista das flores e frutos luminosos de árvores debruçadas sobre as margens e com a própria água do rio, que tinha sabor de morango silvestre maduro. Não resistimos a experimentá-la e o resultado causou grande surpresa: também nós passamos a brilhar na escuridão!

Mas toda esta doçura estava por acabar… O ribeirão corria cada vez mais depressa, bem como a melodia que nos acompanhava e, quando esta alternou-se para o tom menor, aventurávamo-nos em acidentadas corredeiras! Apesar do receio, sentíamo-nos vivos e eufóricos!

A próxima evolução deste ato, no entanto, não foi em nada condescendente: em um instante nos vimos aos pés de uma gigantesca onda carmim, que nos tomou em sua espiral iluminada pela espuma rendada de suas bordas. Nela giramos incessantemente, engolindo sua ácida e salgada água até perdermos os sentidos…

É de manhã e acabamos de despertar em uma planície de fina nuvem rosada. O rio desapareceu por completo e a única prova que tenho da veracidade de todas estas palavras aqui anotadas é que vejo a canoa tombada ao pé de mim e os registros do binofotomultiscópio, que felizmente resistiu às intempéries. Meus companheiros começam a levantar-se… E veja, as aves aprumam-se em uma posição extremamente elegante, com os olhos fechados e… Será possível? Sorriem?! E que som é este?

Até o próximo compasso, amigos… Devo me fazer presente por inteiro nisto que se passa agora…

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